O mundo está muito barulhento. Isso todos sabemos. Mas as pessoas não páram de falar. São os famosas "sai daqui". Nome da música que escrevi e que agora Os Replicantes gravaram no seu mais novo álbum.
Você sai para tomar um drink para relaxar, entra num bar bacana que toca jazz baixinho, o espaço é legal. Mas aí começa a encher de gente e as pessoas falam alto, como se o espaço público sonoro pertencesse a vida particular de cada uma.
Você vai a um show num boteco, adoro boteco, balcão, bom som, está alí o Plauto Cruz - uma lenda do chorinho e da música brasileira, flautista maravilhoso que foi parceiro de Lupicínio e Elis Regina. O lugar é bacana, os temas finos - é flauta e piano - mas lá estão as pessoas reunidas que não sabem ouvir. Mas acham moderno frequentar espaços assim. É cult, mas sem profundidade. Vira um grande parque de diversão. Parecem crianças adultas ou adultos crianças.
Aí me lembrei de uma frase do escritor Assis Brasil e das teorias do rádio: "Escutar é diferente de ouvir".
Eu não sei o que aconteceu, mas quando tinha meus 20 poucos anos, gostava muito mais de sair à noite para ver shows, e havia uma cena em Porto Alegre de jazz e blues. Lugares como a Sala Jazz Tom Jobim, Blue Jazz, o Vermelho 23 (que ainda resiste). Quando os músicos davam seus primeiros acordes todo mundo silenciava e ouvia atentamente.
Mas agora tudo mudou..as pessoas não conseguem ficar em silêncio..não conseguem ter um olhar de contemplação, ou um ouvido atento. Uma mistura de neurose com falta de educação. É a ansiedade dos nossos dias ao extremo. São os valores invertidos, afinal música se consegue ouvir até no celular, e a música ao vivo não tem mais tanta importância, o set list equivale a mais uma rodada de chopp.