sexta-feira, 3 de abril de 2009

O primeiro trenzinho da Redenção


A Osvaldo é mais legal!

A Osvaldo Aranha sempre foi uma avenida que reuniu tribos do underground em Porto Alegre. Nos anos 70 tinha o bar Alaska, em frente ao campus central da Ufrgs, onde se reuniam estudantes, músicos para beber, namorar e falar contra a ditadura militar. Na década de 80, cheguei em Porto Alegre, me alfabetizei em rock e me transformei em adulta nas calçadas sujas e musicais da Osvaldo.
Ali se encontravam todas as tribos. Metaleiros, darks, bichos-grilo, punks, patricinhas, músicos, cineastas, atores, artistas em geral, todos do lado B da cidade.
Tinha o bar Luar, o Escaler e o Cais no mercado do Bom Fim. Neles se reuniam uma fauna principalmente nas tardes de domingo. Era uma epopéia conseguir uma mesa e cadeiras para sentar, sempre havia os vendedores de amendoim e pão de queijo. A cerveja era bem barata devido ao plano cruzado. Com 10 cruzados se comprava cinco cervejas. O Cais era noturno, um micro espaço que rolava shows de blues até o amanhecer.
A Lancheria do Parque não fechava nunca e suas paredes eram de madeira e corriam baratas pelas frestas. Mas o rango sempre foi farto, gostoso e barato. E os garçons uns amigões. Tinha o Cacimba, próximo à Livraria Londres, um reduto de bichos-grilo. O Ocidente era o ponto mais cult da avenida, e ainda é. Todos iam dançar lá, enquanto uma fauna ficava do lado de fora ouvindo os últimos lançamentos da música, como o vinil do avião dos Beastie Boys.
O Lola era o local onde se começava a beber, depois dali, era Ocidente ou o Fim de Século (lá na Plínio Brasil Milano). Subíamos até a Independência e pegávamos carona no dedão até o Fim de Século. A Independência era um local de prostituição e ficamos junto com os travecos pegando carona, era divertidíssimo. Tinha o Pinga, um micro bar na Ramiro, com suas mil cachaças, de todos os tipos de tijolo a serpente; como era o Bar do João, que rolava shows todos os domingos, ali era o reduto do metal.
Todo mundo se conhecia. E andávamos por todos os bares, íamos e voltávamos várias vezes, gastando a sola do cuturno. A cor era preta, e com a chegada da New Wave tudo ficou colorido. Havia o Café Bom Fim na Fernandes Vieira, e era comum os visinhos jogarem baldes de água para a galera ir para casa. A Osvaldo vivia 24 horas por dia. Tinha o fumódromo, onde agora é o Parquinho Zap Zup, ali se fumava a céu aberto, parecia a Holanda.
A Osvaldo ficava intransitável aos domingos, era muita gente. Aí quando começou a juntar muita gente, vieram as confusões. Brigas de metaleiros com punk’s, morte no Escaler. A pressão dos políticos e da associação do bairro fez com que as batidas policiais fossem frequentes. Em 1988, o Ocidente é invadido pela polícia e muita gente vai presa, alguns freqüentadores saíram do bar direto para o camburão. Aí nasceu o movimento Pequim, Bom Fim, contra o abuso e a violência daquele ato policial.
Depois disso, o movimento na Osvaldo começou a cair. Os bares tinham que fechar às 2h da manhã, e muita gente deixou de frequentar o bairro que era tido como cult. A confusão se transferiu para a Cidade Baixa (ufa!)
Mas ainda permanecem os bons locais como o Ocidente com sua programação diversificada e cultural. A Lancheria do Parque com seu rangão bacana. E agora chega o Ooh la la, um local que lembra muito o Garagem Hermética dos anos 90.
O mais bacana é a vista que se tem quando se está nesses locais. A velha avenida, suas palmeiras e o parque da redenção. Pano de fundo para muitos shows e festas do Ocidente.
A Osvaldo continua muito legal, só não espalha, para não encher de gente!